quinta-feira, 14 de abril de 2011

MÓDULO DA VINCI - Segredos do Homem Vitruviano - parte 6

EXPRESSÕES
Nota 3 – Da Vinci levou ao limite extremo o estudo da anatomia e da fisiologia do corpo humano. Se preocupou também com os aspectos das expressões em seus desenhos e pinturas. Muitos desenhos eram estudos para futuras pinturas. A expressão corporal, gestual e facial fazem parte do acervo em diversos desenhos.



A ilustração acima mostra três estudos: 1- esboço para a Última Ceia; 2- esboço de mãos para Madona; 3- esboço para rostos Grotescos.
A principio da Vinci dispõe os apóstolos em três lados da mesa. Todos têm posturas corporais diferentes e gesticulam cada um à sua maneira. Nota-se um deles numa posição totalmente inusitada: as mãos e o rosto apoiados sobre o tampo da mesa como uma atitude desesperada. Seria Pedro ou Judas? Um iria negá-lo o outro traí-lo. Mas no trabalho definitivo Leonardo faz um arranjo com muitas alterações.
As mãos também falam. Através dos gestos é possível se comunicar e expressar sentimentos.
Da Vinci desenhou e pintou diversos rostos, sua galeria vai desde anjos, Madonas, até os rostos grotescos, onde as expressões são enfatizadas pelo relevo criado pelo jogo de luz e sombra.

O uso do sombreamento também está presente no rosto Vitruviano. Examinando o rosto original.


O olho direito olha para cima e é sombreado dentro de um retângulo. O esquerdo olha para frente e recebe uma sombra triangular. Aqui é necessário admitir duas hipóteses:
A- o homem sozinho: para onde olha?
B- o homem diante de um interlocutor: para quem olha?
O homem solitário procura apreender duas realidades de uma só vez, o que está a sua frente e aquilo que está acima do horizonte.
Diante de um interlocutor seu olhar se coloca como um desafio: ¨- DECIFRA-ME.¨


   Olhando para cima esse homem solitário procura um ponto além do horizonte, como se quisesse entender o universo.
Diante de um interlocutor estaria mirando a testa do mesmo querendo ler seus pensamentos ou entender o que estaria por trás de suas palavras.
A sombra nos lábios arqueados para baixo confere uma expressão de seriedade Na mesma vertente a sombra sob o queixo sugere uma barba que sobe pelas laterais e em direção à boca.


Esta figura ao estar só faz uma varredura com o olhar para aquilo que está a sua frente. Sua preocupação é com o tempo presente.
Já diante de um interlocutor olha diretamente para dentro de sues olhos fazendo desde logo um contato imediato.
A sombra labial define uma boca mais delicada que a do rosto 2.
O sombreamento abaixo do queixo vale como a sombra do rosto projetada no pescoço.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

MÓDULO DA VINCI - Segredos do Homem Vitruviano - parte 5

O MdV NA OBRA DE LEONARDO.
    A formula simplificada do Módulo Da Vinci é:

 
   
   Quadrado - Lado = 1,0 unidade
   Circunferência- Raio = 0,618 unidade
   Ponto de tangência - centro do lado inferior do quadrado.
   Onde e como Da Vinci aplicou o MdV.

MONALISA 
 
   Retrato de uma mulher que causa polêmicas até hoje. Ao famoso mistério do olhar e do sorriso, pode-se adicionar o mistério das mãos.



   Da Vinci, pintou as partes iluminadas da Monalisa com a técnica do “sfumatto”. O campo iluminado vai passando sutilmente para o sombreado e vice-versa. Com isso Da Vinci abandona o traço linear e as formas fluem sem interrupções. O mistério reside na impossibilidade de se saber onde começa ou termina o objeto desenhado, pois o desenho é desconstruído em favor do “chiaro-oscuro”.

 
Proporção do painel = 2 MdV (2 Módulos Da Vinci) Campos iluminados = 3 MdV


A ANUNCIAÇÃO 
 
Um Anjo traz mensagem para Maria.

   Do lado esquerdo da cena vemos uma paisagem naturalista em cujo centro está um anjo ajoelhado. Do lado direito uma mulher sentada envolvida por uma construção arquitetônica. Entre as duas figuras uma mesa entalhada com motivos vegetais, objeto mediador entre seres de universos distintos. Oposições: divino/profano, natureza/cultura, assexual/sexual, luz/sombra.


   O nível da paisagem natural está acima do piso do primeiro plano, onde se encontram os personagens da cena. A mulher tem os pés sobre um piso iluminado. O anjo se ajoelha sobre um piso escuro. Duas metáforas cruzadas: o anjo desceu do superior para o inferior e do claro para o escuro. A arquitetura que envolve a mulher sugere os cantos externos e não tem continuidade, criando um campo negro que destaca seu contorno. As subdivisões do retângulo ( campo do anjo X campo da mulher) obedecem rigorosamente à medida dourada.


Proporção do painel = 2 MdV (2 Módulos Da Vinci).
Destaques = 3 MdV (anjo/espaço mediador/mulher)


  
  A mensagem verbal se concretiza no espaço plástico. Uma grossa linha clara atravessa a cena da esquerda para a direita parando na mão direita da mulher. As árvores entram no fundo da esquerda para a direita parando antes da metade do cenário. As copas criam um ritmo e uma curva em relação ao anjo, alem de se inclinarem gradativamente em direção à mulher. Nota-se que Da Vinci pintou árvores de espécies diferentes. Pode-se pensar em uma mensagem cifrada proferida pelo anjo. Do ponto de vista léxico categorias gramaticais variadas, do ponto de vista semântico significados diferentes. Em suma: uma frase. O gesto da mão direita do anjo é aparado pela palma da mão esquerda da mulher, onde se consuma a mensagem recebida.


  A medida de ouro, é a proporção áurea, a chave descoberta pelos gregos. A harmonia resulta do uso das relações proporcionais das partes entre si e das partes com o todo.

A ÚLTIMA CEIA 
Cristo com os apóstolos.

 

  Arquitetura renascentista para uma cena da Antiguidade. Não se trata de erro e sim de licença poética. Personagens dialogando ou discutindo, e ninguém entretido com comida ou bebida. Todos gesticulam, e cada gesto traz uma carga de significados.


 

As linhas de fuga do teto convergem para a cabeça do Cristo. Os braços abertos em ângulo como alguém se despojando de seus bens.


 

A iluminação da cena recai sabre os personagens da ceia e parte da parede lateral direita.
Três janelas ao fundo deixam aparecer uma linha de horizonte. O restante da cena está mergulhado na sombra, deixando antecipar um clima dramático.



Inserindo-se através das linhas arquitetônicas percebe-se as combinações e a harmonia que Leonardo construiu com seu Módulo.




  O enquadramento da parede de fundo abre três janelas para o exterior. A linha de horizonte divide as janelas em azul na parte superior e verde na inferior. A continuidade dessa linha passa imaginariamente pela metade da cabeça de Cristo, donde podemos concluir que se trata de um ser que pertence ao céu e a terra. Pelo filtro do MdV Leonardo construiu e legou ao mundo uma obra que é capaz de ligar a cadeia do Tempo e do Espaço transcendendo com sua visão humanista esses mesmos Tempo e Espaço.
  Da Vinci explora um segundo ponto de fuga para solucionar o tampo da mesa, o que poderia ser considerado um “erro”, porem essa pequena deformação se harmoniza perfeitamente com o todo da obra. 

Aproximando-se da figura central, nota-se que os detalhes da construção arquitetônica também se baseiam no MdV.

OS GÊMEOS  

Duas propriedades caracterizam a existência gemelar, a saber: FUSÃO e/ou DIVISÃO. A Mitologia fornece diversos exemplos. Em geral, porém não exclusivamente, descendentes da união de divindades com mortais. A beleza, seja da mulher ou do homem, é a desculpa pelo comportamento adúltero, ou pouco recomendável dos habitantes do Panteão. Disfarces e artimanhas foram usados para ludibriar nossos ingênuos mortais. Transfiguração para a aparência do cônjuge, a forma de um animal de estimação, e outros que tais. O filho herdava as virtudes dos pais em dose dupla, isto é, a divindade de um e a humanidade do outro, podendo se tornar um semideus e no mínimo um herói. No caso de gêmeos a situação se torna mais complicada: um será mortal e o outro imortal. Zeus, sob a forma de um belo cisne, seduz Leda, mulher de Tíndaro. Dessa tríplice união, Leda dá à luz a dois casais: Castor e Climtemnestra, filhos do marido, mortais; e Pólux e Helena filhos da divindade, portanto imortais. Outro cruzamento dessas esferas tão diferentes de personagens é o caso de Rômulo e Remo, filhos de Marte e Reia Sílvia. Encontramos também gêmeos filhos de divindades, como Apolo e Diana, filhos de Júpiter e Latona
  
Leda o Cisne e os Gêmeos. Doze MdV.


Destaques: mulher = 4 MdV; cisne = 2 MdV; quadrigêmeos = 1 MdV.


APOLO e DIANA


O SOL E A LUA

   Apolo era o deus do Sol. Era na realidade o próprio Sol. Nesse sentido representava a luz, o conhecimento, a revelação das coisas encobertas pelas trevas. O Sol desde as mais remotas eras está relacionado com o masculino, o positivo, o quente, o fogo, o dia. Diana era a deusa da caça, ao mesmo tempo que deusa da Lua. Consequentemente representa o lado feminino, o negativo, o frio, a água, a noite. Da Vinci leva o jogo de fusão e divisão ao extremo. Já vimos que o tronco oculto pode ser de uma mulher. Também verificamos que o rosto Vitruviano é ambíguo. Contem fases da vida: juventude, velhice e morte: comparável às fases da Lua: crescente, cheia, minguante e nova. Mais ainda: confirma a síntese masculino/feminino do corpo. Quanto ao Sol, está presente nos movimentos que Da Vinci imprime na figura humana: elevação dos braços e pernas, elevação do olhar e elevação do pênis. À imagem e semelhança de Deus, Da Vinci recria o Homem com a presença virtual da Mulher. 
 O TRIÂNGULO
   O triângulo é a primitiva das formas geométricas. Ë a mais estável entre as demais formas. A sensação de eternidade talvez tenha inspirado os construtores das pirâmides do Egito a usar a forma triangular. A orientação das pirâmides tem como referência o Sol, na implantação e nas medidas tanto horizontais como verticais. Alvorada, meio dia e ocaso, eis de novo o triângulo no percurso que o Sol descreve para o observador. O frontão na arquitetura grega é mais um dos notáveis triângulos utilizados de forma prática. Aliás, o desenvolvimento da geometria na Grécia é um dos grandes legados daquela civilização. Como exemplo basta citar Pitágoras e seu atualíssimo teorema. A trigonometria, e toda gama de cálculos que permitiu ao homem precisar as ogivas espaciais e conquistar espaços jamais imaginado.


Pártenon, obra prima da arquitetura clássica do período helênico.

CONLUSÃO 
  Como ser conclusivo diante de material tão vasto? Acreditamos ter apontado uma pequena janela pela qual se vislumbram novas perspectivas. O Homem Vitruviano é uma obra aberta.
Incontáveis autores das mais diversas disciplinas abordaram o desenho de Da Vinci. Filósofos, críticos de arte, artistas plásticos, médicos, fisioterapeutas, psicólogos, publicitários, astrônomos, astrólogos, historiadores, matemáticos, etc. A cada dia novos achados são acrescidos ao acervo existente. O que se pode dizer é que há muita coisa fermentando no desenho de Da Vinci à espera de ser decifrada e revelada. Diante desta modesta contribuição à fortuna do HOMEM VITRUVIANO, cabe agora ao leitor prosseguir e descortinar novos segredos nesta obra de LEONARDO DA VINCI.


BOA VIAGEM!






Nota 1 - A chamada arte rupestre, pintura ou gravação nas cavernas e nas rochas retratam animais na sua maioria com grande riqueza de detalhes. Entretanto a figura humana aparece em quantidade menor e bastante simplificada. O homem pode estar caçando ou em cena de combate.
Uma imagem é digna de nota pelo inusitado temático. Trata-se de uma pedra gravada encontrada nas montanhas Gueghianian no planalto da Armênia. O circulo dividido em quarto partes iguais sugere uma partilha de terra entre quatro famílias clãs ou tribos. As figuras humanas devem representar os líderes. Se os líderes estivessem dentro de cada fatia significaria possessão. Para entender as figuras na parte externa do círculo temos que admitir uma relação ¨diplomática¨ entre as partes. 
O acordo propõe a união dos proprietários num pacto de não agressão e a defesa do bem comum partilhado, em caso de ataque por grupos inimigas. 
A borboleta estilizada provavelmente serve como referencia de localização, visto que a noção de pontos cardeais ainda não existia. 


Nota 2 – O ato de voar foi objeto de estudos de Leonardo. Alguns inventos tiveram origem a partir dessa preocupação: o anemômetro, o paraquedas, a biruta. Cinco séculos depois o helicóptero e a asa delta foram baseados em seus protótipos e desenhos. Asas de aves e de morcegos fazem parte do repertório gráfico de da Vinci.
A anatomia animal além da humana gerou diversos estudos de posturas e movimentos desses modelos.





quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

MÓDULO DA VINCI - Segredos do Homem Vitruviano - parte 4


MdV – MÓDULO DA VINCI
E O ROSTO VITRUVIANO

6ª LEITURA
 
A estrutura (objeto 1 + objeto 2) não contem sòmente os arquétipos encontrados, mas também a cabeça do Homem Vitruviano.


OS ROSTOS SECRETOS


ROSTO 1

A cabeça do Homem Vitruviano ocupa um MdV (Módulo Da Vinci). A circunferência e o quadrado se apoiam na parte superior do osso externo. A aparência é de uma pessoa adulta. Sombras marcam o rosto e produzem um efeito de assimetria. Qual a intenção de Da Vinci?
Uma ¨cirurgia plástica¨ revela segredos do rosto Vitruviano.

Ao dividir o rosto original em dois e espelhando-se cada metade:



aparecem dois rostos diferentes do rosto original.



1/2 ROSTO 2 
 

ROSTO 2



1/2 ROSTO 3 
 

ROSTO 3 


     Cada imagem ostenta um colar diferente. Uma lente de aumento revela novos segredos.




São três rostos distintos desvelados, a saber:
  • um adulto; o rosto 1 original,
  • um velho; o rosto 2 ,
  • um jovem;. o rosto 3.
    Da Vinci reitera o tema da passagem do Tempo: passado presente e futuro.
SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS
A circunferência é preenchida pelo rosto mais os cabelos. O lado superior do quadrado atinge o meio da testa. Manchas de sombras acentuam e definem as expressões faciais.

ROSTO 1 (adulto, híbrido)
  • Cabelos: penteado ligeiramente assimétrico
  • Olhos: desorbitados; cada olho olha para um lado
  • Lábios; ligeiramente assimétricos
  • Expressão facial: seriedade
  • Marca: assimetria .
ROSTO 2 (velho, masculino)
  • Cabelos: muito ondulados e bem penteados; volume acentuado
  • Olhos: esbugalhados; olha para cima (diagonal)
  • Lábios: fortemente arqueados para baixo
  • Expressão facial: gravidade
  • Marca: rugas profundas; ossatura dominante; caveira explicitada.
ROSTO 3 (jovem, feminino)
  • Cabelos: muito ondulados e bem penteados; volume acentuado
  • Olhos: normais; olha para frente (horizontal)
  • Lábios; ligeiramente arqueados
  • Expressão facial: curiosidade
  • Marca: musculatura.
O comparativo nos permite algumas indagações:
  • Poderia ser as cabeleiras uma metáfora? Porque preencher o círculo, somente para usar o MdV? Que significado teria essa metáfora?
  • Porque um olha para o espectador e outra para o infinito?
  • A caveira do Rosto 2 , seria a semente da morte dentro do ser vivente?
  • O Rosto 3 que tem a aparência mais jovial seria uma garota , ou será um rapaz? Por acaso não poderia estar uma mulher oculta pelo corpo masculino?



A metáfora passado-futuro ressurge na versão masculino-feminino.
A figura acima pode ser interpretada como uma relação sexual?.



ASSOCIAÇÃO DO CORPO COM O ROSTO VITRUVIANO

 7ª  LEITURA

    È importante considerar o centro T, centro do triângulo 1 4 7 , para entender a sobreposição das 
duas imagens.


OUTRO SEGREDO
  
Inserindo-se de uma só vez o MdV ao Homem e ao rosto Vitruviano, novas revelações se apresentam. O eixo umbilical coincide com as narinas; o eixo do sexo se projeta sobre a linha da boca; o centro de articulação dos braços se sobrepõe ao ângulo dos olhos e dos ouvidos. Meras coincidências?
O oxigênio é fundamental para a sustentação da vida. Para o embrião o suprimento é feito através do cordão umbilical. Para o recém nascido, até seu último suspiro, pelas suas narinas, pelo ato involuntário da respiração. Volta-se assim ao círculo original a Mater: à Mãe e à Mãe Terra. O ato sexual é o pressuposto para a reprodução, isto é, a criação de novos seres. A boca também é o lugar de origem da fala. O primeiro ato criativo foi produzido pela palavra, o Logos: “Fiat Lux”.
O domínio da perspectiva por Da Vinci lhe permitiu fazer alguns virtuosismos gráficos como a genitália do Homem Vitruviano. Desenhando o membro em estado de ereção seu contorno se reduz a um círculo. Temos assim no mesmo desenho um pênis ereto e um orifício vaginal. No centro do quadrado o órgão produtor da fala no mesmo sítio do órgão reprodutor masculino, conjunção língua/pênis. Igualmente, a conjunção vagina/boca, dá conta do terreno fértil para a geração de novas futuras vidas. Conciliando braços, olhos e ouvidos. No triângulo que foi deduzido no Sujeito 5, foi implantado o centro T. O homem Vitruviano está com os braços abertos em dois níveis. No sentido prático é um sujeito da ação. Não está relaxado..A relação se restringe às pálpebras abertas. É o homem desperto ou em estado de alerta. Lembrando os Rostos 2 e 3. Os dedos tocam os seus limites, o MdV. Com o sentido do tato o homem vai internalizando o seu entorno.
Do mesmo modo seus olhos e ouvidos buscam captar as ondas luminosas e sonoras.
Os ângulos visuais e auditivos têm como centro o ponto T, e na verdade não são ângulos e sim cones se considerarmos a terceira dimensão.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

MÓDULO DA VINCI - Segredos do Homem Vitruviano - parte 3


O CORPO HUMANO

Um dos temas recorrentes na produção artística é sem dúvida a figura humana.


As proporções do corpo podem sofrer alterações por diversos motivos.
Intenção do artista; função ou utilidade; estilo; estética vigente.

Entretanto certos autores se voltaram especificamente às proporções humanas.


As ilustrações precedentes apontam para o interesse do homem com seu ambiente, desde os desenhadores pré-históricos. Os parâmetros anteriores às medidas decimais estavam baseados nas partes do corpo humano: jarda, braçada, pé, palmo, polegada.
Nota: a figura à esquerda destoa das demais, porém será analisada no final deste ensaio. 


SISTEMAS SEMI-SIMBÓLICOS

Ao relacionar formas geométricas com o corpo humano, Da Vinci abre um leque de possibilidades combinatórias de articulações. Em outras palavras, diferentes investimentos semânticos às formas geométricas possibilitam novas leituras e revitalizam o “texto” (desenho) em significâncias variadas.
A fusão do Cristianismo com a Mitologia greco-romana faz parte da ideologia do Renascimento. Dentro dessa visão sincrética a coexistência sagrado/profano é harmônica. Ë a partir desse pressuposto que podemos aplicar o quadrado semiótico à obra de Da Vinci ora abordada.


- Quatro são os princípios que dão origem aos arquétipos do quadrado semiótico:
o divino, o não divino, o humano e o não humano. 

Combinados dois a dois, temos:

DIVINO + HUMANO = HERÓI
DIVINO + NÃO HUMANO = DEUS
NÃO DIVINO + HUMANO = HOMEM
NÃO DIVINO + NÃO HUMANO = DEMÔNIO.



4a- LEITURA
OS ARQUE/TIPOS

.O HOMEM DO SER
O SUJEITO S2

 
Novos valores podem ser atribuídos a sujeito e objetos


   Movimentos circulares simbolizam ciclos: o dia e a noite, as estações.
O giro de ponteiros dos relógios, a virada de uma ampulheta.
O quadrado simboliza os pontos cardeais; o tabuleiro de xadrez gerado por um quadrado dividido em 64 casas, espaços específicos para cada peça, e o labirinto de planta quadrangular, todos, nesse caso representam o espaço.

Tempo + Espaço = Contexto
S2 = um Sujeito passional = HAMLET
Pontos de articulação = 2, 4, 6, e 8.

Juntando-se os objetos O1 (Tempo) e O2 (Espaço), cria-se o objeto O3. Um espaço e um tempo simultâneos plasmam um CONTEXTO.

To be or not to be”. Assim se instala um sujeito deveras específico. O isolamento do EU é a tônica da situação passional. O sujeito trava uma luta interior. Está dividido entre ser ou não ser. O sujeito toca o quadrado em quatro pontos, é “dono” de seu espaço. A relação com o tempo (circunferência), se verifica apenas em um só ponto sob seus pés. Trata-se, portanto de um momento preciso, único. A paixão não transforma o mundo, mas promove uma mudança interior no sujeito. O sujeito como que faz uma autoavaliação e é auto sancionado. Neste caso a sanção é negativa, pois o sujeito conclui: ‘morrer, dormir, nada mais”.
Estamos de volta ao tema VIDA/MORTE, só que no nível do indivíduo.
Os pontos de tangencia contornam o sujeito com a forma de um losango.


Hamlet na cena do monólogo: ser ou não ser.


3a- LEITURA

UM PERSONAGEM MITOLÓGICO

O SUJEITO S3
  

A circunferência e a esfera podem ter outros significados além do tema Tempo:
 Céu, espaço sideral, o Panteão, a morada dos deuses 
Transpondo os limites do humano chega-se às searas mitológicas.

  Agrupando sujeito e objeto:

Circunferência/Esfera = Céu 
Quadrado = Terra

Céu + Terra = Mitologia
S3 = Sujeito mitológico = ULISSES
Pontos de articulação = 1, 3, 5, 7 e 8.

O sujeito expande os braços e as pernas como se quisesse abraçar o mundo. O ponto de vista do espectador observa o sujeito de cima para baixo, é como se o herói estivesse flutuando sobre um liquido. Sujeito da ação, por excelência, por onde passa deixa sua marca. Sua missão é transformar o mundo. Vencendo pela sua astúcia todas as peripécias que se interpunham em seu caminho. Sua trajetória é uma metáfora: a aventura do homem na terra. Articulando-se em quatro pontos com a circunferência e três com o quadrado, seus pés estão fora da terra. Há uma concessão dos deuses para suas ações. Seus feitos ficarão gravados na história dos homens. Desprendendo-se de seu lugar de origem sua aventura viajará através do tempo e do espaço. Sancionado positivamente, após sua morte entra para o rol dos semideuses.
Os pontos de tangencia contornam o sujeito com a forma de trapézio.




4a- LEITURA

OUTRO PERSONAGEM MITOLÓGICO
O SUJEITO S4


  Aqui o espectador está no chão e olha para cima. No alto, flutuando um sujeito que tenta se igualar aos deuses.

Constituintes figurativos: 
Circunferência = Céu
Quadrado = Terra

Céu + Terra = Mitologia
S4 = Sujeito mitológico = ÍCARO
Pontos de articulação = 2, 3, 5, 6 e 8.

O sujeito invade o espaço sagrado dos deuses. Caracteristicamente um sujeito do fazer. Sua performance, entretanto revela sua incompetência. Sancionado negativamente pelo Olimpo o sujeito é precipitado ao mar. Os pontos de articulação são reveladores. O sujeito tem a cabeça e as mãos na terra e os pés no céu, quer dizer, está de cabeça para baixo. A queda de Ícaro foi produto de sua insistência em voar mais alto que seu pai, que tentou de todas as maneiras persuadir Ícaro a desistir de seu impulso juvenil.
Os pontos de tangencia contornam o sujeito com a forma de um pentágono.




5a- LEITURA

O AVATARA
O SUJEITO S5


Este sujeito representa a Harmonia. Rearticulando as figuras:
Circunferência = Céu
Quadrado = Terra

Céu + Terra = Mitologia
S5 = Sujeito mitológico = Deus Encarnado

Pontos de articulação = 1, 4, 7 e 8.
Três pontos comuns articulam simultaneamente a circunferência o quadrado e o Homem.
A ligação dos pontos 1, 4 e 7 gera um triângulo isóscele com o vértice para baixo.
O centro geométrico desse triângulo se projeta sobre o coração do sujeito.


Na escalada do eixo vertical insere-se mais um degrau.

SEXO/UMBIGO/CORAÇÃO, quadrado/circunferência/triângulo.

   Esse sujeito liga harmonicamente os significados.
 Braços erguidos, mãos à altura da cabeça ligam o céu e a terra. Os pés unidos também ligam o tempo e o espaço. A cabeça do S5 toca a parte do quadrado, fazendo o limite acima de si um espaço intangível. A postura é semelhante a do Cristo crucificado. Um sujeito que venceu a morte.    Sancionado positivamente ele ressuscita e é glorificado ascendendo ao céu.
 O tema VIDA/MORTE se transforma em IMORTALIDADE.