segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

CONCERTO DE ARANJUEZ

Adágio do Concerto de Aranjuez de Joaquin Rodrigo, interpretação de Narciso Yepes
www.youtube.com/watch?v=RxwceLlaODM
Música para ouvir e meditar.

TRIBUTO A JOAQUIN RODRIGO

CONCERTO DE ARANJUEZ


ELA

Dezoito anos, morena, olhos esverdeados, cabelos lisos cortados à altura do queixo. Aqueles cabelos negros eram a moldura perfeita para seu rosto afilado. Não usava maquiagem a não ser o contorno dos olhos com o lápis preto repercutindo nos olhos o efeito que os cabelos produziam no seu rosto. Em uma palavra: lindíssima.

ELE

Vinte e três anos, olhos castanho-escuros, cabelos pretos, rosto ligeiramente azulado nas regiões onde se manifestava a barba impecavelmente raspada. Magro, alto, de porte altivo e esguio. Em duas palavras: belo e elegante.

ELA E ELE

Junho, baile de São João. Vários pares dançavam a quadrilha. Ela se destacava entre aqueles casais.
Ele assistia e aplaudia as evoluções dos dançarinos. A música e os movimentos coreográficos encantavam a plateia.
Em meio aquela aparente balbúrdia o encontro do verde com o castanho plasmava um momento mágico para os dois. Entre Ela e Ele o espaço e o tempo perdiam o sentido, a lógica e a razão e cediam lugar ás emoções. Desse instante em diante seus olhares excluiriam todas as demais pessoas. O fim da quadrilha era o momento mais esperado por Eles. Começava o baile. Ele esperou uma música suave para dançar com Ela. Dançavam como se estivessem patinando no gelo, tal a leveza que experimentavam. Permaneceram juntos até o final da festa. Ela deu seu telefone e pediu que Ele ligasse no dia seguinte.
Os encontros serviram para se conhecerem e se reconhecerem. Ela professora primária de Português e Matemática. Gostava de crianças, tocava violão e cantava nas horas de lazer. Ele artista plástico, escultor e pintor de aquarelas. Passeios, praias, cinemas, teatros exposições preencheram o tempo quando Eles não estavam conversando sobre os mais diversos assuntos.

Tiveram filhos, ganharam netos. Quantos, seus nomes? Não, não vamos enveredar por esses detalhes. Não percamos o foco: Ela e Ele.

Depois do casamento do filho caçula compraram uma pequena casa na praia. Um perfumado jardim construído ao longo dos anos alegrava a vista e olfato de quem o visitasse.
Após o rotineiro café da manhã, o casal foi se refrescar à sombra da Parreira que recobria a pérgula de bambu. Falavam de amenidades enquanto as borboletas e os beija-flores vinham saborear as flores e as helicônias
  • Querida, toque aquela música, disse Ele enquanto se acomodava em sua espreguiçadeira . Ela empunha o violão e começa a tocar o Adágio do Concerto de Aranjuez.
Um filete de luz atravessa um espaço entre as folhas e se instala entre os dedos e as cordas do violão. Ele fixa o olhar nesse ponto luminoso e vê os sons se transformarem em cores que sobem por aquele raio luminoso. Perplexo, pensa que está sonhando ou delirando. Ao tentar racionalizar um acorde fortíssimo eclode das mãos de sua amada, uma grande bolha se condensa à sua frente. A bolha flutua em volta dele e o envolve, agora a bolha começa a flutuar e a subir entorno do eixo melódico-luminoso. Ele mal pode acreditar no que esta acontecendo. Quanto mais a bolha subia mais o volume da musica crescia. No momento exato em que atinge o ponto médio do raio luminoso, ouve-se uma explosão.
Ele a música e a bolha se transformam em pontinhos dourados, qual poeira de estrelas ou uma minúscula galáxia, girando e subindo em direção ao Sol.

DO FIM AO RECOMEÇO

DO FIM AO RECOMEÇO

ONTEM
Primavera, duas horas de uma madrugada . O sino da matriz repica duas badaladas.
Nesse instante Aparecido adentra em sua casa.
  • Isto são horas? Pergunta Renata.
  • Exatamente, duas horas!
  • Eu sei, quero saber exatamente onde e com quem você esteve.
  • 23º3323”S 46°4053”W com a turma da repartição.
  • Muito engraçado.
  • E você porquê não está na dormindo?
  • Esqueceu que estou condicionada a dormir com a suave sinfonia de seu ronco?
  • Podemos resolver esse problema gravando meus valiosos ruídos noturnos.
  • Chega dessa conversa desgastante, vou dormir!
Aparecido adota a mesma atitude e também vai para a cama.
Aquele relacionamento era como um tecido esgarçado que estava por um fio.
Como a Terra não para de girar, um novo dia aman...

DOIS ANOS ANTES
Renata cursava o último ano da faculdade de história: Aparecido estava no ultimo semestre da faculdade de geografia. Conheceram-se numa festa de confraternização dos formandos daquele ano letivo. Trocaram olhares, palavras, beijos e meses depois alianças.
Se tivessem sido felizes para sempre”, a história terminava neste ponto. Mas, sempre há um mas. O que aconteceu? Com o passar do tempo pequenos problemas como horários de trabalho, preferências por novelas ou futebol, cinema ou teatro, alimentos com mais ou menos sal, nível de iluminação, minaram o encantamento que um nutria pelo outro.

HOJE
...nheceu. Abria-se um lindo sábado de primavera. Levantaram mais tarde como faziam nesses dias. Tomaram café regado a frutas, bolachas, geléias, mel, leite, pão com manteiga e muita ironia. Às dez horas Aparecido saiu sem dizer palavra. Não foi ao clube nem à academia. Para onde teria ido?
Treze horas, Aparecido entra em casa trazendo um enorme pacote.
  • Sempre que você se arrepende de me tratar mal sai sem dizer nada e volta com um presente tentando se desculpar.
  • Não, não é um presente, mas pode significar o futuro.
Ao rasgar o papel da embalagem aparece...
  • Mala?
Isso mesmo, responde Aparecido.
  • Vai viajar?
  • Não propriamente. Concluí que esta casa ficou pequena demais para nossos egos, um
de nos deve sair para que os dois possam viver plenamente.
  • Quando?
  • Hoje!
  • Como?
  • Imediatamente!
  • Ficou louco? Essas coisas não se resolvem assim em par ou impar!
  • Vou colocar minhas coisas nesta mala e vou embora agora!
  • Não, você não vai fazer isso, me dá essa mala!
  • O quê, você vai dar o fora?
  • Não! vou encher a mala com as suas coisas e vou botar os dois pra fora de casa.
Assim foi dito assim foi feito.

DOIS ANOS MAIS TARDE
Soa a campainha. Renata abre a porta. –Você?
  • Voltei!
  • Como, voltei?
  • De táxi.
  • Não foi isso que perguntei.
  • Até hoje você não assinou o divorcio. Não posso me casar, pois seria punido por bigamia. Por outro lado qualquer bem adquirido teria que partilhar com você.
  • Se você esperasse mais um mês o casamento perderia a validade.
  • Sei, mas também perderia o direito à casa.
  • O que pretende?
  • Aqui está minha solução, responde enquanto tira um objeto do bolso.
  • Um pedaço de giz?
  • Acompanhe-me.
Vão até o quarto. Aparecido traça uma linha dividindo a cama em duas partes, e continua dividindo toda a casa em duas partes, o quarto a cozinha o banheiro a sala etc.
  • Pode escolher se prefere o lado esquerdo ou direito, diz jogando o toco de giz pela janela.
  • E fica tudo como antes?
  • Não! fica tudo como eu demarquei.
  • Agora vou propor minha solução, responde Renata, apanhando um apagador. – Siga-me! E sai apagando todas as linhas desenhadas por Aparecido.
  • E fica tudo como antes?
  • Não! Você esqueceu de me dividir com o giz.
  • E então?
Renata avança em direção a Aparecido e começa a esfregar o apagador em seu corpo.
  • Pare, o que è isso? Não, não, socorr...
Nesse dia Aparecido foi apagado da vida de Renata, literalmente..

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

AGRADECIMENTO

Ao querido filho Yuri, pelo trabalho gráfico;
e à caríssima amiga Janine Milward, pelo incentivo.

PLANETA AZUL



PLANETA AZUL

O
ovo
de pé
na mesa
do rei

a
nave
no mar
um peixe
um pássaro
Cristóvão:
a Terra é esfera “

a
ave
no ar
no espaço
a girar
na elipse solar
um homem
Yuri:
a Terra é azul “

o azul é Terra
Yuri
a ave solar
a girar no espaço

no ar
a ave terra esfera

um pássaro peixe
no mar

a nave do rei
na mesa

de pé
o 
ovo
.


kaspar boyadjian