segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

DO FIM AO RECOMEÇO

DO FIM AO RECOMEÇO

ONTEM
Primavera, duas horas de uma madrugada . O sino da matriz repica duas badaladas.
Nesse instante Aparecido adentra em sua casa.
  • Isto são horas? Pergunta Renata.
  • Exatamente, duas horas!
  • Eu sei, quero saber exatamente onde e com quem você esteve.
  • 23º3323”S 46°4053”W com a turma da repartição.
  • Muito engraçado.
  • E você porquê não está na dormindo?
  • Esqueceu que estou condicionada a dormir com a suave sinfonia de seu ronco?
  • Podemos resolver esse problema gravando meus valiosos ruídos noturnos.
  • Chega dessa conversa desgastante, vou dormir!
Aparecido adota a mesma atitude e também vai para a cama.
Aquele relacionamento era como um tecido esgarçado que estava por um fio.
Como a Terra não para de girar, um novo dia aman...

DOIS ANOS ANTES
Renata cursava o último ano da faculdade de história: Aparecido estava no ultimo semestre da faculdade de geografia. Conheceram-se numa festa de confraternização dos formandos daquele ano letivo. Trocaram olhares, palavras, beijos e meses depois alianças.
Se tivessem sido felizes para sempre”, a história terminava neste ponto. Mas, sempre há um mas. O que aconteceu? Com o passar do tempo pequenos problemas como horários de trabalho, preferências por novelas ou futebol, cinema ou teatro, alimentos com mais ou menos sal, nível de iluminação, minaram o encantamento que um nutria pelo outro.

HOJE
...nheceu. Abria-se um lindo sábado de primavera. Levantaram mais tarde como faziam nesses dias. Tomaram café regado a frutas, bolachas, geléias, mel, leite, pão com manteiga e muita ironia. Às dez horas Aparecido saiu sem dizer palavra. Não foi ao clube nem à academia. Para onde teria ido?
Treze horas, Aparecido entra em casa trazendo um enorme pacote.
  • Sempre que você se arrepende de me tratar mal sai sem dizer nada e volta com um presente tentando se desculpar.
  • Não, não é um presente, mas pode significar o futuro.
Ao rasgar o papel da embalagem aparece...
  • Mala?
Isso mesmo, responde Aparecido.
  • Vai viajar?
  • Não propriamente. Concluí que esta casa ficou pequena demais para nossos egos, um
de nos deve sair para que os dois possam viver plenamente.
  • Quando?
  • Hoje!
  • Como?
  • Imediatamente!
  • Ficou louco? Essas coisas não se resolvem assim em par ou impar!
  • Vou colocar minhas coisas nesta mala e vou embora agora!
  • Não, você não vai fazer isso, me dá essa mala!
  • O quê, você vai dar o fora?
  • Não! vou encher a mala com as suas coisas e vou botar os dois pra fora de casa.
Assim foi dito assim foi feito.

DOIS ANOS MAIS TARDE
Soa a campainha. Renata abre a porta. –Você?
  • Voltei!
  • Como, voltei?
  • De táxi.
  • Não foi isso que perguntei.
  • Até hoje você não assinou o divorcio. Não posso me casar, pois seria punido por bigamia. Por outro lado qualquer bem adquirido teria que partilhar com você.
  • Se você esperasse mais um mês o casamento perderia a validade.
  • Sei, mas também perderia o direito à casa.
  • O que pretende?
  • Aqui está minha solução, responde enquanto tira um objeto do bolso.
  • Um pedaço de giz?
  • Acompanhe-me.
Vão até o quarto. Aparecido traça uma linha dividindo a cama em duas partes, e continua dividindo toda a casa em duas partes, o quarto a cozinha o banheiro a sala etc.
  • Pode escolher se prefere o lado esquerdo ou direito, diz jogando o toco de giz pela janela.
  • E fica tudo como antes?
  • Não! fica tudo como eu demarquei.
  • Agora vou propor minha solução, responde Renata, apanhando um apagador. – Siga-me! E sai apagando todas as linhas desenhadas por Aparecido.
  • E fica tudo como antes?
  • Não! Você esqueceu de me dividir com o giz.
  • E então?
Renata avança em direção a Aparecido e começa a esfregar o apagador em seu corpo.
  • Pare, o que è isso? Não, não, socorr...
Nesse dia Aparecido foi apagado da vida de Renata, literalmente..

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