segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

TRIBUTO A JOAQUIN RODRIGO

CONCERTO DE ARANJUEZ


ELA

Dezoito anos, morena, olhos esverdeados, cabelos lisos cortados à altura do queixo. Aqueles cabelos negros eram a moldura perfeita para seu rosto afilado. Não usava maquiagem a não ser o contorno dos olhos com o lápis preto repercutindo nos olhos o efeito que os cabelos produziam no seu rosto. Em uma palavra: lindíssima.

ELE

Vinte e três anos, olhos castanho-escuros, cabelos pretos, rosto ligeiramente azulado nas regiões onde se manifestava a barba impecavelmente raspada. Magro, alto, de porte altivo e esguio. Em duas palavras: belo e elegante.

ELA E ELE

Junho, baile de São João. Vários pares dançavam a quadrilha. Ela se destacava entre aqueles casais.
Ele assistia e aplaudia as evoluções dos dançarinos. A música e os movimentos coreográficos encantavam a plateia.
Em meio aquela aparente balbúrdia o encontro do verde com o castanho plasmava um momento mágico para os dois. Entre Ela e Ele o espaço e o tempo perdiam o sentido, a lógica e a razão e cediam lugar ás emoções. Desse instante em diante seus olhares excluiriam todas as demais pessoas. O fim da quadrilha era o momento mais esperado por Eles. Começava o baile. Ele esperou uma música suave para dançar com Ela. Dançavam como se estivessem patinando no gelo, tal a leveza que experimentavam. Permaneceram juntos até o final da festa. Ela deu seu telefone e pediu que Ele ligasse no dia seguinte.
Os encontros serviram para se conhecerem e se reconhecerem. Ela professora primária de Português e Matemática. Gostava de crianças, tocava violão e cantava nas horas de lazer. Ele artista plástico, escultor e pintor de aquarelas. Passeios, praias, cinemas, teatros exposições preencheram o tempo quando Eles não estavam conversando sobre os mais diversos assuntos.

Tiveram filhos, ganharam netos. Quantos, seus nomes? Não, não vamos enveredar por esses detalhes. Não percamos o foco: Ela e Ele.

Depois do casamento do filho caçula compraram uma pequena casa na praia. Um perfumado jardim construído ao longo dos anos alegrava a vista e olfato de quem o visitasse.
Após o rotineiro café da manhã, o casal foi se refrescar à sombra da Parreira que recobria a pérgula de bambu. Falavam de amenidades enquanto as borboletas e os beija-flores vinham saborear as flores e as helicônias
  • Querida, toque aquela música, disse Ele enquanto se acomodava em sua espreguiçadeira . Ela empunha o violão e começa a tocar o Adágio do Concerto de Aranjuez.
Um filete de luz atravessa um espaço entre as folhas e se instala entre os dedos e as cordas do violão. Ele fixa o olhar nesse ponto luminoso e vê os sons se transformarem em cores que sobem por aquele raio luminoso. Perplexo, pensa que está sonhando ou delirando. Ao tentar racionalizar um acorde fortíssimo eclode das mãos de sua amada, uma grande bolha se condensa à sua frente. A bolha flutua em volta dele e o envolve, agora a bolha começa a flutuar e a subir entorno do eixo melódico-luminoso. Ele mal pode acreditar no que esta acontecendo. Quanto mais a bolha subia mais o volume da musica crescia. No momento exato em que atinge o ponto médio do raio luminoso, ouve-se uma explosão.
Ele a música e a bolha se transformam em pontinhos dourados, qual poeira de estrelas ou uma minúscula galáxia, girando e subindo em direção ao Sol.

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