DESCONSTRUINDO O HOMEM VITRUVIANO
A analise de um desenho sob o ponto de vista da Semiótica permite fazer algumas considerações a respeito do Homem Vitruviano. Quando se aborda uma obra seja literária ou visual as relações dos actantes se revestem de especificidades que devem ser ressaltadas:
DESTINADOR e DESTINATÁRIO.
Da Vinci se desdobra em:
1. Destinador/Narrador – aquele que produziu o desenho;
2. Destinador/Manipulador – aquele que dotou um sujeito de habilidades para realizar uma tarefa;
3. Destinador/Julgador – aquele que sancionara o sujeito pela sua ação.
Nas posições dos Destinatários aparecem:
- Destinatário/Enunciatário – o espectador do desenho;
- Destinatário/Manipulado – o sujeito do enunciado (o homem desenhado);
- Destinatário/Julgado – o sujeito sancionado (o homem desenhado).
O Destinatário/Enunciatário (quem observa o desenho) tem, portanto que fazer uma dupla leitura. Em primeiro lugar decodificar a mensagem do sujeito do enunciado, isto é, interpretar o que diz o “texto plástico”, e em seguida decodificar a mensagem do autor que se manifesta por trás da história contada. Tenhamos em mente os saltos na História e na Geografia, esclarecendo: de Da Vinci a Vitruvius e de Da Vinci até nós.
SUJEITOS E OBJETOSA figura de um homem cujos membros estão duplicados levanta a primeira questão: quantos são os sujeitos? Possíveis três hipóteses:
a.- Um sujeito em duas instâncias distintas (de tempo ou espaço);
b - Dois sujeitos ;
c - Um sujeito dividido (instância poética ou mitológica).
À figura humana já atribuímos o papel de SUJEITO.
Às figuras geométricas chamamos de OBJETOS.Duas formas primitivas que se interseccionam, aparentemente dois objetos, mas podemos questionar. Hipoteticamente:
a - Dois objetos;
O DESENHO ORIGINALElaborado sobre uma folha de papel branca e traços na cor sépia, duas figuras geométricas semi concêntricas envolvem uma figura humana com os membros duplicados. Traços precisos, proporções anatômicas definem o desenho do Homem. Discretas manchas sombreiam o lado esquerdo do desenho (cabelos, rosto, mãos, axila e pé). Linhas horizontais contornam o corpo humano criando um efeito de irradiação do corpo para fora. Calor, aura?Todos os membros da figura humana estão duplicados:
-Um par de braços erguidos à altura dos ombros (horizontal);
-Um par de braços erguidos à altura da cabeça (diagonal);
-Um par de pernas juntas (pés no nível mais baixo);
-Um par de pernas separadas (pés no nível um pouco mais alto);
-Sexo flácido (vertical);
-Sexo erecto (horizontal).
Os pés direitos apontam para frente, enquanto os pés esquerdos estão voltados para o lado esquerdo. Este detalhe chama a atenção dentro de uma composição simétrica. Existem outros que apontaremos mais adiante.
EIXOS: x, y, z.
CENTRO DA CIRCUNFERÊNCIA: R
CENTRO DO QUADRADO: S
PONTOS DE ARTICULAÇÂO: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8.
ESTRUTURA DO DESENHO DE DA VINCI
Um eixo vertical (z) corta as três figuras, homem círculo e quadrado, revelando uma simetria quase absoluta.
Um eixo horizontal (x) ao cruzar com z determina o centro da circunferência e o umbigo do homem, centro R.
Outro eixo horizontal (y) divide o quadrado pela metade e ao cruzar z determina a posição do sexo da figura humana, centro S.
O Homem tangencia as figuras geométricas em oito pontos. Cada ponto de tangência será identificado por um algarismo. Tais pontos serão chamados daqui por diante de pontos de articulação.
REARTICULAÇÕES
1a- LEITURA
O Homem Vitruviano. Um sujeito do fazer.
As relações construtivas do desenho denunciam a intenção de Da Vinci. A relação umbilical estabelece um vínculo com a mãe, com as origens, assim a circunferência remete ao primal. Na mesma vertente a relação através do sexo leva à reprodução, aos descendentes, portanto ao estabelecer uma referência quadrado/sexo, Leonardo remete ao futuro. As figuras geométricas recebem investimentos semânticos:
Circunferência = Passado (antepassados)
Quadrado = Futuro (descendentes)
Circunferência + Quadrado = Tempo
De Vitruvius a Leonardo e deste à posteridade.
Um Destinador / Manipulador estabelece um contrato com um Destinatário / Manipulado: - ir ao passado, recolher dados sobre arquitetura, montar um modelo e endereçá-lo para o futuro. Ao tocar os pontas de articulação 1,3,5,7. (circunferência), o sujeito entra em conjunção com o passado. Passado representado pela tradição greco-romana, livros, documentos, monumentos, etc. Os dados coletados são implantados sobre o corpo do sujeito, passando ele mesmo a ser o modelo. Linhas retas balizam as proporções distribuídas pelo corpo e membros do sujeito.
Abaixando os braços e juntando as pernas o sujeito se articula com os pontos 2, 4, 6 e 8, ocupa o quadrado, isto é, entra em conjunção com o futuro. A mudança de postura do sujeito revela uma transformação. Ocorreu uma transferência do conhecimento através dos tempos. Este sujeito comprovou sua competência. O objeto Tempo foi devidamente conquistado em suas duas instâncias. Sua sanção é positiva. Essa leitura tratou dois momentos distintos de um mesmo sujeito.
Assim se percorre o patamar das estruturas discursivas, onde se processa a geração de sentido do “texto”, neste caso do desenho. A estrutura narrativa permite pensar em dois sujeitos. Vitruvius ocupando o centro do passado, e Da Vinci como o elo de transição para o futuro. É claro que uma atribuição autobiográfica a Leonardo Da Vinci é arbitrária. Tanto Vitruvius como Da Vinci se preocuparam com o agora e com o amanhã. Suas ideias contribuíram para transformar o mundo. Do Império Romano ao Renascimento acontece como que uma reatualização de valores. Resta fazer considerações à Estrutura Fundamental, ponto de partida da geração do sentido. Partindo de temas abstratos VIDA X MORTE (Homem), PASSADO X FUTURO (Tempo), Da Vinci questiona os destinos do Homem e da Humanidade.
Duas perguntas inevitáveis:
-O que significa a nudez?
-Como se equaciona a espacialidade nessa primeira leitura?
O Homem despido, deslocado de uma paisagem, coloca o espectador diante de um ser descontextualizado (no tempo e no espaço). Sem uma “roupagem cultural”, tem-se à frente uma figura que pode representar essa ou aquela época, esse ou aquele lugar. A figura assume uma dimensão universal (atemporal e aespacial), e como tal se constitui numa metáfora, isto é, a figura humana passa a representar a Humanidade e se concretiza na figura do homem.
A ausência de uma paisagem figurativa como que coloca o Homem no infinito. Embora descontextualizado podemos dizer que o tema espaço está implícito na figura humana, visto que ele representa simbolicamente a construção arquitetônica, da qual ele Homem é a medida canônica.
Tomando-se o fator TEMPO em sua essência, abstraindo-se da linearidade passado presente futuro, surgem duas figuras humanas simultâneas. Como estão ligadas pelo centro umbilical, podem ser denominadas, por enquanto, de GÊMEOS. Estas figuras serão comentadas um pouco mais adiante.
O sujeito S1 tangencia o objeto na impossibilidade de retê-lo Submetido à ilusão do tempo presente, ele percebe que o presente é um futuro que a cada instante se converte em passado. Podemos dizer que a situação se inverte e o Homem se torna Objeto do Anti-sujeito Tempo. O próprio desenho sugere a figura humana como presa capturada por uma teia de aranha. Refém do ciclo do Tempo, o Sujeito olha para trás e para frente. Nas duas visões se consuma seu destino. No passado a morte de seus antepassados, no futuro a sua própria morte. Da angústia dessa consciência resulta a expressão grave do sujeito como veremos ao analisar seu rosto. O entendimento do Tempo, da Vida e da Morte, do destino humano, quer dizer, a conjunção S/O (sujeito/objeto), eufórica num primeiro momento tende para o disfórico com o transcorrer do tempo. A solução para vencer a Morte é a procriação, criando assim novas vidas. Como nada mais é possível fazer em relação ao passado, só o futuro pode ser planejado racionalmente.
-O que significa a nudez?
-Como se equaciona a espacialidade nessa primeira leitura?
O Homem despido, deslocado de uma paisagem, coloca o espectador diante de um ser descontextualizado (no tempo e no espaço). Sem uma “roupagem cultural”, tem-se à frente uma figura que pode representar essa ou aquela época, esse ou aquele lugar. A figura assume uma dimensão universal (atemporal e aespacial), e como tal se constitui numa metáfora, isto é, a figura humana passa a representar a Humanidade e se concretiza na figura do homem.
A ausência de uma paisagem figurativa como que coloca o Homem no infinito. Embora descontextualizado podemos dizer que o tema espaço está implícito na figura humana, visto que ele representa simbolicamente a construção arquitetônica, da qual ele Homem é a medida canônica.
Tomando-se o fator TEMPO em sua essência, abstraindo-se da linearidade passado presente futuro, surgem duas figuras humanas simultâneas. Como estão ligadas pelo centro umbilical, podem ser denominadas, por enquanto, de GÊMEOS. Estas figuras serão comentadas um pouco mais adiante.
O sujeito S1 tangencia o objeto na impossibilidade de retê-lo Submetido à ilusão do tempo presente, ele percebe que o presente é um futuro que a cada instante se converte em passado. Podemos dizer que a situação se inverte e o Homem se torna Objeto do Anti-sujeito Tempo. O próprio desenho sugere a figura humana como presa capturada por uma teia de aranha. Refém do ciclo do Tempo, o Sujeito olha para trás e para frente. Nas duas visões se consuma seu destino. No passado a morte de seus antepassados, no futuro a sua própria morte. Da angústia dessa consciência resulta a expressão grave do sujeito como veremos ao analisar seu rosto. O entendimento do Tempo, da Vida e da Morte, do destino humano, quer dizer, a conjunção S/O (sujeito/objeto), eufórica num primeiro momento tende para o disfórico com o transcorrer do tempo. A solução para vencer a Morte é a procriação, criando assim novas vidas. Como nada mais é possível fazer em relação ao passado, só o futuro pode ser planejado racionalmente.
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